domingo, 13 de abril de 2008

[8] Terminando por Buenos Aires

"Viajar é como falar com homens de outros séculos" Descartes


Fotos em: http://www.flickr.com/photos/acpadilha/sets/72157604561081101/


Na noite de sexta-feira, após a excursão até o Glaciar Perito Moreno, estava tomando uma cerveja na recepção do Albergue, já imaginando que a viagem chegava ao seu fim. Sentaram-se no sofá próximo duas garotas com uma garrafa de um litro de cerveja Stella Artóis. Não demorei a perguntar de onde eram. Austríacas, Ernestine e Ingrid. Tinham acabado de chegar de Buenos Aires e só ficariam o final de semana em El Calafate, estavam a fim de conhecer a vida noturna da cidade, o que também seria perfeito para minha despedida. Procuramos um bar pela cidade, porém mesmo levando-se em consideração que era uma sexta-feira, devido ao início da baixa estação, a cidade estava meio vazia. Decidimos então comer uma pizza. Voltamos depois para o Albergue e tomamos mais algumas cervejas até de madrugada. Coincidentemente elas ficariam no mesmo quarto que eu. A quarta cama do quarto estava ocupada pela jovem italiana Andréa.

A decolagem do avião de El Calafate no sábado de manhã rumo a Buenos Aires, me possibilitou ter mais algumas visões surreais. Jamais esquecerei as cores dos lagos: às vezes azuis, às vezes verdes, vistos de cima, com as grandes montanhas nevadas em paralelo. A viagem foi tranquila, meu plano era utlizar a tarde em Buenos Aires para comprar algumas blusas de frio. Em El Chalten obtive uma dica com um argentino de onde ir, longe dos bairros tradicionais da capital argentina, no bairro de Charitas. Aliás tenho que dizer que esse argentino juntamente com a esposa decidiram viajar toda a Argentina com um trailler (onde também dormirão) e então irão escolher outra cidade para morar que não Buenos Aires.

Comprei o que queria ,tomei um café em uma cafeteria e depois um sorvete de doce de leite em uma sorveteria de imigrantes italianos, a "Heladeria Scannapioco - desde 1938", excelente, fica na Rua Córdoba. Jantei um calzone em uma pizzaria e fui para o aeroporto aonde passaria a madrugada. Meu vôo seria às 6:50 de domingo.

É muito temeroso o que vou dizer agora. Não sei se estou seguro sobre isso. Não sei explicar. Não sei apontar os fatores. É uma visão parcial: minha viagem de 21 dias pelo Chile e pequena parte da Argentina foi melhor que a de 110 dias pela Europa. Não sei se é a maturidade. Não sei se é a média de gasto ao dia um pouco maior. Não sei se é o acaso. Não sei se é a completa superação da expectativa. Não sei se é a proximidade. Não sei se é a natureza e minha paixão por ela. Não sei se são as pessoas que conheci. Não sei se foi o planejamento. Não sei se foi tudo isso junto, não sei se foi algo que não consigo verbalizar. Pensei e escrevi.

Acaba assim minha aventura. Também não sei se o Corinthians se classificou, se o dólar subiu, se a bolsa caiu, fiquei alheio à rotina do meu cotidiano. E isso é ótimo.

A alemã Zapi, a canadense Jane, o suiço Vincent, os irlandeses Paul e John, o candense Carl, a peruana Fiorella, os britânicos Jonh Paul e Sally, os brasileiros Nemo e Bach, as dinamarquesas, as autríacas Ernestine, Ingrid, o argentino, os seis espannhóis, a polonesa Marzena, a italiana Andréa, a francesa, as brasileiras Daiane, Tatiana e Ruth mais os brasileiros Diogo e Daniel, o brasileiro de Promission, o chileno Cristian, a chilena Carmem, os dois alemães, o francês Nankim, a australiana Eva, o holandês, o austríaco, mais duas canadenses, o irlandês Kevin, a Chilena com a qual dancei na festa no Navimag, os três estadunidenses, o vietnamita. Quarenta e sete pessoas que a minha memória e algumas anotações retiveram. Preciso dizer mais alguma coisa?

Com o fim desta viagem acho que concluo um ciclo importante na América do Sul. Conheci tudo o que tinha mais vontade: Peru, Bolívia, Argentina, Uruguai e Chile. Talvez na verdade seja um ciclo bem mais abrangente que finda em minha vida. EUA, Europa e América do Sul. Não sei. O primeiro caracterizado pelas suas oportunidades, pela ciência, pelo empreendedorismo e, sobretudo, pelo dinheiro. A Europa com sua riqueza cultural, em todos os campos da arte, com a sua organização (exceto a Itália!), com a pluralidade. E a América do Sul? A América do Sul pode ser resumida por uma palavra: natureza. Natureza inanimada e também a humana. Mas é também uma mescla de tudo. Um certo primitivismo temperado com o desbravamento europeu, que nos descobriu e nos povoou, e com uma considerável influência de nosso vizinho mais rico, os EUA, que vê suas bases teóricas questionadas com a queda das Torres Gêmeas (símbolo do capitalismo), com as guerras injustificáveis contra Afeganistão, Iraque, com suas recentes crises financeiras. Mas ainda há muito por se conhecer. O povo brasileiro tem muito de africano, foram eles que operacionalizaram o sonho de homens inquietos, que nos deu jogo de cintura, que colocou aqui uma pitada de beleza e enriqueceu nossa música e nossa culinária, para dizer apenas algumas características. Como, um dia, não querer conhecê-los nas suas origens? Agora também temos uma imensa sombra asiática sobre o mundo. Mais de um bilhão de pessoas entrando para o mundo do consumo, abalando as teorias estabelecidas, alterando a ordem natural das coisas, consumindo ainda mais recursos naturais, sacudindo o planeta. O mundo não será mais o mesmo com a expansão chinesa e indiana. O oriente sempre também povoa minha imaginação...

Fine.

Abraços,

P.S. Fiz muita propaganda do Brasil. Não conformo com o fato de encontrar tanta gente viajando por meses a fio pela América do Sul e não irem ao Brasil. Somos negligentes neste aspecto. O vietnamita radicado nos EUA disse que tinha que pagar US$100 para obter o visto para visitar o Brasil. É que os EUA fazem o mesmo com os brasileiros e o Brasil exerce a igualdade de direito. Mas isso afeta em muito nossa economia

P.S. 2 Outros tipos de viagens podem ser encontrados no blog abaixo. Acabo de postar lá: "Pensar é viajar" http://blogdopadilha.blogspot.com/

Um comentário:

Anônimo disse...

Vc deu a entender que está em dúvida para a próxima aventura, se África ou Ásia. E Oceania, não lhe apetece? Há muita natureza tanto na Austrália qto Nova Zelândia e arredores.
Bem, seja lá o seu destino onde for, estaremos aguardando novos relatos, novas fotos, novas emoções, narradas pela web ou num boteco qq deste país...
Grande abraço