domingo, 13 de abril de 2008

[8] Terminando por Buenos Aires

"Viajar é como falar com homens de outros séculos" Descartes


Fotos em: http://www.flickr.com/photos/acpadilha/sets/72157604561081101/


Na noite de sexta-feira, após a excursão até o Glaciar Perito Moreno, estava tomando uma cerveja na recepção do Albergue, já imaginando que a viagem chegava ao seu fim. Sentaram-se no sofá próximo duas garotas com uma garrafa de um litro de cerveja Stella Artóis. Não demorei a perguntar de onde eram. Austríacas, Ernestine e Ingrid. Tinham acabado de chegar de Buenos Aires e só ficariam o final de semana em El Calafate, estavam a fim de conhecer a vida noturna da cidade, o que também seria perfeito para minha despedida. Procuramos um bar pela cidade, porém mesmo levando-se em consideração que era uma sexta-feira, devido ao início da baixa estação, a cidade estava meio vazia. Decidimos então comer uma pizza. Voltamos depois para o Albergue e tomamos mais algumas cervejas até de madrugada. Coincidentemente elas ficariam no mesmo quarto que eu. A quarta cama do quarto estava ocupada pela jovem italiana Andréa.

A decolagem do avião de El Calafate no sábado de manhã rumo a Buenos Aires, me possibilitou ter mais algumas visões surreais. Jamais esquecerei as cores dos lagos: às vezes azuis, às vezes verdes, vistos de cima, com as grandes montanhas nevadas em paralelo. A viagem foi tranquila, meu plano era utlizar a tarde em Buenos Aires para comprar algumas blusas de frio. Em El Chalten obtive uma dica com um argentino de onde ir, longe dos bairros tradicionais da capital argentina, no bairro de Charitas. Aliás tenho que dizer que esse argentino juntamente com a esposa decidiram viajar toda a Argentina com um trailler (onde também dormirão) e então irão escolher outra cidade para morar que não Buenos Aires.

Comprei o que queria ,tomei um café em uma cafeteria e depois um sorvete de doce de leite em uma sorveteria de imigrantes italianos, a "Heladeria Scannapioco - desde 1938", excelente, fica na Rua Córdoba. Jantei um calzone em uma pizzaria e fui para o aeroporto aonde passaria a madrugada. Meu vôo seria às 6:50 de domingo.

É muito temeroso o que vou dizer agora. Não sei se estou seguro sobre isso. Não sei explicar. Não sei apontar os fatores. É uma visão parcial: minha viagem de 21 dias pelo Chile e pequena parte da Argentina foi melhor que a de 110 dias pela Europa. Não sei se é a maturidade. Não sei se é a média de gasto ao dia um pouco maior. Não sei se é o acaso. Não sei se é a completa superação da expectativa. Não sei se é a proximidade. Não sei se é a natureza e minha paixão por ela. Não sei se são as pessoas que conheci. Não sei se foi o planejamento. Não sei se foi tudo isso junto, não sei se foi algo que não consigo verbalizar. Pensei e escrevi.

Acaba assim minha aventura. Também não sei se o Corinthians se classificou, se o dólar subiu, se a bolsa caiu, fiquei alheio à rotina do meu cotidiano. E isso é ótimo.

A alemã Zapi, a canadense Jane, o suiço Vincent, os irlandeses Paul e John, o candense Carl, a peruana Fiorella, os britânicos Jonh Paul e Sally, os brasileiros Nemo e Bach, as dinamarquesas, as autríacas Ernestine, Ingrid, o argentino, os seis espannhóis, a polonesa Marzena, a italiana Andréa, a francesa, as brasileiras Daiane, Tatiana e Ruth mais os brasileiros Diogo e Daniel, o brasileiro de Promission, o chileno Cristian, a chilena Carmem, os dois alemães, o francês Nankim, a australiana Eva, o holandês, o austríaco, mais duas canadenses, o irlandês Kevin, a Chilena com a qual dancei na festa no Navimag, os três estadunidenses, o vietnamita. Quarenta e sete pessoas que a minha memória e algumas anotações retiveram. Preciso dizer mais alguma coisa?

Com o fim desta viagem acho que concluo um ciclo importante na América do Sul. Conheci tudo o que tinha mais vontade: Peru, Bolívia, Argentina, Uruguai e Chile. Talvez na verdade seja um ciclo bem mais abrangente que finda em minha vida. EUA, Europa e América do Sul. Não sei. O primeiro caracterizado pelas suas oportunidades, pela ciência, pelo empreendedorismo e, sobretudo, pelo dinheiro. A Europa com sua riqueza cultural, em todos os campos da arte, com a sua organização (exceto a Itália!), com a pluralidade. E a América do Sul? A América do Sul pode ser resumida por uma palavra: natureza. Natureza inanimada e também a humana. Mas é também uma mescla de tudo. Um certo primitivismo temperado com o desbravamento europeu, que nos descobriu e nos povoou, e com uma considerável influência de nosso vizinho mais rico, os EUA, que vê suas bases teóricas questionadas com a queda das Torres Gêmeas (símbolo do capitalismo), com as guerras injustificáveis contra Afeganistão, Iraque, com suas recentes crises financeiras. Mas ainda há muito por se conhecer. O povo brasileiro tem muito de africano, foram eles que operacionalizaram o sonho de homens inquietos, que nos deu jogo de cintura, que colocou aqui uma pitada de beleza e enriqueceu nossa música e nossa culinária, para dizer apenas algumas características. Como, um dia, não querer conhecê-los nas suas origens? Agora também temos uma imensa sombra asiática sobre o mundo. Mais de um bilhão de pessoas entrando para o mundo do consumo, abalando as teorias estabelecidas, alterando a ordem natural das coisas, consumindo ainda mais recursos naturais, sacudindo o planeta. O mundo não será mais o mesmo com a expansão chinesa e indiana. O oriente sempre também povoa minha imaginação...

Fine.

Abraços,

P.S. Fiz muita propaganda do Brasil. Não conformo com o fato de encontrar tanta gente viajando por meses a fio pela América do Sul e não irem ao Brasil. Somos negligentes neste aspecto. O vietnamita radicado nos EUA disse que tinha que pagar US$100 para obter o visto para visitar o Brasil. É que os EUA fazem o mesmo com os brasileiros e o Brasil exerce a igualdade de direito. Mas isso afeta em muito nossa economia

P.S. 2 Outros tipos de viagens podem ser encontrados no blog abaixo. Acabo de postar lá: "Pensar é viajar" http://blogdopadilha.blogspot.com/

sexta-feira, 11 de abril de 2008

[7] El Calafate e Perito Moreno

Cheguei em El Calafate, a partir de El Chaten, às 9:30. No meu quarto no albergue El Calafate estava a polonesa radicada na Irlanda, que tinha trabalhado um mês em Buenos Aires, mas que aproveitara para conhecer a Patagônia Argentina, Marzena. Ela também viera de El Chaten de modo que podemos conversar bastante sobre as aventuras vivenciadas lá, bem como sobre muitos outros assuntos. Em seguida também chegou a italiana Andrea radicada em valparaíso (Chile) que também vinha de El Chaten e que, como eu, tinha feito o Torres del Paine, porém começando o circuito W do lado oposto.Combinamos de ir a Perito Moreno no dia seguinte.

Acabou que a italiana, exausta, desistiu de ir pela manha. Fomos eu e Marzea. O ônibus de dois andares nos apanhou, bem como a outros hóspedes, às 9:00 da manha. Às 11:00 conseguimos ter a primeira vista do glaciar, de longe. Por ali já deu para ter uma nocao do que veríamos.

Às 11:30 pegamos um grande barco confortável que nos levaria através do lago argentino até bem próximo do glaciar. E de fato nos aproximamos bastante, mas confesso que estava achando aquilo um tanto quanto turístico demais e o glaciar em si nao estav me surpreendendo.

Porém, depois de descermos do barco, pegarmos o ônibus novamente e descer em uma área aonde teríamos acesso às passarelas que levam até bem próximo do glaciar tudo começou a ficar diferente.

Dessa vez, curiosamente, chegamos ainda mais perto. E tínhamos uma visao de cima para baixo. Agora sim era possível suspirar diante da imensa massa de gelo que erguia-se a cerca de 60 metros acima do mar. A largura era de cerca de 5 km ! E o comprimento?? 14 km, ou seja, o perdíamos de vista. A cor dava um charme todo especial: diferentes tonalidades de azul e um pouco de branco. Próximo a ele haviam imensos blocos de gelo azulado soltos sobre a água.

Subitamente ouvimos um estrondo, parecia um trovao. Era um imenso pedaço do glaciar se desprendendo e caindo provocando muito barulho. Tao logo ele alcançou a água uma enorme onda se formou no lago. Era apenas o primeiro desprendimento de alguns que se seguiriam. Por uma hora e meia eu e Marzena explorarmos novos ângulos andando sobre as passarelas, vendo as montanhas nevadas ao fundo, a água esverdeada do lago, algumas árvores secas, e o grande glaciar. Estavamos abismados, mesmo sentindo um pouco de frio...

No Youtube é possível ver um vídeo do glacial caindo:

http://www.youtube.com/watch?v=TZJYN8qnirE

P.S. Acho que o texto final consigo postar no domingo dia 13.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

[6] El Chaten

Nosso ônibus saía de Puerto natales para El Calafate as 9:00 da manha de terça. De lá seguiria direto para El Chaten sem ficar nenhuma noite. Sem planejarmos nada, do meu lado no ônibus foi a australiana Eva que fez o Torres comigo. Nas duas outras poltronas do lado os colegas de Navio/Navimag o canadense Carl e a peruana Fiorella. Logo atrás de mim o irlandês Paul. Haja coincidência!

Trinta minutos depois de partimos paramos na imigraçao chilena para registrar a saída, mais meia hora partamos na imigraçao argentina para registrar a entrada. Durante toda a viagem víamos pela janela as paisagens cobertas por muita neve.

Chegamos em El Calafate as 15.30. O ônibus para El Chaten saía âs 18:30. Tinha 3 horas para comprar a passagem, trocar dinheiro para obter pesos argentinos, escrever o texto de Torres del Paine no blog e claro, comprar comida no supermercado, esqueci de comer durante o dia todo... ainda bem que o café da manha na Casa Cecilia era como os portugueses chamam o desayuno: um pequeno almoço.

No ônibus para El Chaten, na poltrona de trás estava o francês Nankim, colega de quarto na Casa Cecília. Às 10 horas da noite cheguei a El Cahten e fiz o registro no excelente Albergue Patagônia.

Na quarta-feira acordei muito cedo, faria a trilha até chegar ao cerro Fitz Roy e a Laguna de los Tres a frente. Peguei o mapa ao contrário e acabei indo em direçao oposta a que deveria. Foi bom que cheguei em uma padaria onde tomei o café da manha, café com leite e duas medias lunas. Todas as lojas estavam fechadas e nao pude alugar botas. Entrei em uma loja e o simpático argentino disse que conhecia Minas Gerais, falou também que seria possível eu fazer a trilha com meu tênis. Acreditei.

Comecei a trilha âs 8:30 e consegui fazer um tempo ótimo até o primeiro Mirador, 47 minutos e nao a hora e meia que os guias diziam. Infelizmente apesar das paisagens de neve serem bonitas, nao podia ver o Fitz Roy, havia nuvens ao redor dele, apesar de também haver céu azul e sol atrás de mim.

Continuei as trilhas. Realmente parecia que eu era o primeiro a passar por elas no dia, nao havia sinal de pegadas. Vi uma bifurcaçao para a lagoa Capri mas segui em frente. Vi alguns laguinhos congelados e comecei a ficar com medo de pisar em um deles sem perceber, nao estava fácil achar a trilha depois da nevasca do dia anterior.

Passei por vários acampamentos para finalmente chegar ao ponto final onde teria que subir cerca de 500 metros em um local muito íngrime. Isso levaria cerca de uma hora quando entao avistaria a lugana de los tres com o Fitz Roy ao fundo. havia uma placa indicando que se nao tivesse com calçado adequado nao deveria prosseguir, mas nao consegui desistir naquele momento.

Subi 2/3, sendo que o último 1/3 meus pés afundavam 30 cm na neve. Acho que para aventuras como essas que tenho vivido nos últimos das sao necessários preparo psicológico, físico e equipamentos e apetrechos adequados. Sem o primeiro se desiste diante das primeiras dificuldades. o segundo é a natureza impondo seus limites, nao se luta contra o cansaço, musculos doendo, um gripe, um pulmao deficitário. O terceiro também é fundamental, ele afeta muito o lado psicológico. Roupas molhadas (nao impermeaveis), calçados inadequados, falta de água ou comida fazem muita gente desistir de uma empreitada. A falta de calçados adequados me fez desistir. Comecei a ficar com medo. Era o único ali em meio aquele cenário branco. A subida ficava cada vez mais vertical, a trilha difícil de encontrar, a neve crescia a 40 cm no chao. Às vezes temos que saber a hora de abandonar um projeto furado.

Quando já tinha descido bastante encontrei um casal. Falei para eles das condiçoes mais acima mas eles decidiram continuar mais um pouco. Continuei descendo e encontrei outro casal, desta vez eram dois espanhóis de Barcelona super-equipados. Roupas de montanhista de primeira linha, com direito a polainas, luvas, gorros, macacoes, bastoes. Às vezes também os projetos nao devem ser abandonados, mas reavaliados. Pensei que eu pisando duas vezes naquela neve fofa (minha subida e minha descedia) somada a do casal a frente e a do casal de espanhóis podiam deixar o caminho um pouco mais fácil para mim. Decidi subir de novo.

Rapidamente os espanhois passaram o casal e foram abrindo caminho. Subíamos os 5 juntos. Chegou um ponto que mais uma vez meus pés afundavam na neve, mas nao iria desistir de novo. Depois de muita dificuldade, várias quase-desistências chegamos à Laguna de Los Três. O Fitz Roy nao se via, infelizmente. O tempo havia mudado bastante. Nao havia mais sol nem atrás de nós ao longe, tudo agora eram só nuvens. O frio era de congelar. Nao ficamos nem 5 minutos ali, foi o tempo de só tirar umas fotos. Lembrei agora daquele ditado: "Aquele que vai só vai rápido, mas os que vao juntos vao mais longe".

Começamos a descer, e para mim, de tênis, a descida era pior que a subida. Começou a nevar forte de novo, quase apagando nossas pegadas, e um vento frio fez com que minha pele do rosto, bem como os músculos, quase congelassem. Escorreguei e caí várias vezes. O espanol, sensato, me emprestou suas luvas. Cada vez que eu caía e as maos batiam na neve, elas iam a zero graus. As luvas foram minha salvaçao. Descemos muito rápido e senti um alívio muito grande quando chegamos à base. continuei sozinnho depois. No total, até regressar a El Chaten gastei 7 horas, andei 22 km ida e volta. Na cidade, diferentemente da manha, também estava nevando. Pus meu tenis para secar, tomei um banho quentíssimo e fuui jantar.

No dia seguinte, quinta-feira meu onibus saíria às 18:00. O dia amanheceu bonito de novo, mas gato escaldado tem medo de água fria. Esperei até as 10:00 e o tempo continuava bom. Aluguei entao botas e decidi ir até o mirador tentar novamente ver o Fitz Roy. Desta vez gastei 5 minutos a menos. Fiz em 42 minutos. o Céu estava azul e dessa vez pude ver a fabulosa montanha nevada. O formato é impressionante.

Ouvi alguém falar da lagoa Capri, que estava cerca de 40 minutos à frente e, como tinha tempo, resolvi ir até lá. Vi paisagens belíssimas, a lagoa, o Fitz Roy, o céu azul, as árvores cobertas de neve, o chao branco. Do mirante à lagoa fui conversando com um vietnamita radicado nos EUA. Ele seguiria mais à frente e antes de chegar ao ponto que fui no dia anterior viraria para passar pela lagoas Madre e Hija e chegar ao mirante da outra grande atraçao de El Chaten: o cerro Torre. Olhei no relógio, eram cerca de 12:30. Meu ônibus partia as 18:00, será que dava tempo? Mas quando voltaria a El Chaten? Já fiz a caminhada de Machupicchu, subi a Pedra da Gávea e o Cristo a pé no Rio, fiz a travessia Teresópolis-Petrópolis, subi o vulcao Villarrica em Pucon, fiz o circuito W em Torres del Paine ao longo de quatro dias com uma carga grande às costas. Aquilo nao seria tao dificil, o problema era só o tempo, teria que caminhar bem mais rápido. Decidi tentar. Calculei que caminhando muito apressadamente levaria pouco menos de 4 horas até fazer isso e voltar à cidade. No total seriam seis horas de caminhada, pouco mais de 20 km novamente.

Pisando em muita neve, embaixo de árvores também com muita neve, vendo o Fitz Roy e as lagunas de diferentes ângulos senti muito forte a presença de Deus. Lembrei dos meus parentes e da minha colega de trabalho que morreram em 2007 e rezei por eles. Espero que eles estejam em lugar tao bonito quanto este.

Tirei belas fotos do Cerro Torre e cheguei em El Chaten às 15.30. Escrevi esse texto e agora tenho que ir ao supermercado comprar comida (comi muito pouco novamente), devolver as botas e pegar minha mala para partir rumo a El Calafate.

P.S. Acho que o texto de El Calafate/Perito Moreno consigo postar na sexta.

P.S.2 temperatura máxima aqui: 2 graus celcius.

terça-feira, 8 de abril de 2008

[5] Parque Torres Del Paine

OBSERVAÇAO: texto em estado bruto...

Circuito W
Dia 1 Puerto Natales -Torres del Paine: Refúgio/Acampamento Pehoé
Dia 2 Pehoé - Acampamento Italiano - Vale do Francês - Acampamento Italiano - Refugio /Acampamento Los Cuernos
Dia 3 Los Cuernos - Acampamento Chileno - Acampamento Las Torres
Dia 4 Acampamento Las Torres- Acam pamento Chileno - Hosteria/Refugio Las Torres - Puerto Natales

Assisti a um curta-metragem bem interessante outro dia. Era sobre dois irmaos estadunidenses que viviam sozinhos em um casarao em um bairro de Nova York e que nao conseguiam se desfazer de nada. O tema do curta era sobre a relaçao do homem com os objetos. Começava falando que na época que o homem vivia nas cavernas e era nômade, mudava constantemente de lugar e carregava apenas uma trouxinha com algumas coisas. Já os irmaos que nao conseguiam se desfazer de nada ocuparam os 14 cômodos da casa em que moravam com muito tranqueira. Acabaram morrendo em meio a tanto lixo, o que só foi descoberto devido ao cheiro que os vizinhos sentiram dias depois.

Estou falando isso porque por quatro dias minha vida esteve em minhas costas. Em uma mochila bem grande, com barrigueira que permite concentrar parte do peso fora dos ombros, onde estavam nao só minha casa e cama (barraca, saco de dormir), como também as roupas, comida e outros apetrechos. E confesso que nao foi tao difícil assim ficar afastado da civilizaçao, assim como os nomades, com poucos objetos, diferentemente dos irmaos de Nova York.

Ainda antes de começar a falar do roteiro que acima transcrevi dentro do Parque Torres Del paine, também tenho que dizer que pouco antes de viajar, ainda em Março, acessei algumas páginas na internet e encontrei em uma delas o que queria: companhia para os 4 dias que passaria em Torres del Paine. A paulista Daiane havia deixado um recado com a mesma intenção em um dos forums do site, no tópico “Dicas sobre a Patagônia Chilena”, de maneira que respondi e obtive o endereço eletrônico dela. Trocadas algumas mensagens liguei para ela e combinei de encontrá-la na véspera da excursão ao parque em Puerto Natales, onde ela já estaria com mais uma amiga paulista e uma carioca. Ficariam hospedadas na Casa Cecília após chegarem de Ushuaia (Terra do Fogo – Argentina). Eu também reservei uma vaga na mesma hospedaria para encontrá-las após a viagem de navio de Puerto Montt a Puerto Natales. E assim nos encontramos na Casa Cecília, sendo que as outras duas garotas acabaram desistindo da aventura, porém uma outra, a australiana Eva se integrou a nós.

Alugamos tudo que era necessário para acamparmos (é fundamental, por exemplo, roupa anti-chuva, fogareiro, botas...), compramos comida e pagamos o ônibus e a entrada no Parque. Para nos despedirmos do conforto as meninas prepararam um belo jantar com direito a sobremesa e tudo que comemos em uma mesa redonda na aconchegante hospedaria.

Primeiro Dia
O ônibus passou na Casa Cecília às 7:15 da manha, 15 minutos antes do combinado, porém houve tempo suficiente para tomarmos um excelente café da manha. Sei dizer que por volta do meio dia, após pararmos na entrada do parque, parar uma vez para tirar fotos das montanhas e pegar um barco/lancha pelo lago Pehoé, chegamos ao Acampamento Pehoé. Montamos nossas barracas e fomos fazer a primeira perna do circuito W, que tem esse nome porque o trajeto que fazemos caminhando adquire o formato de um W. A primeira perna do W é ir e voltar até o glaciar Grey. Isso nos tomou toda a tarde da sexta-feira. No começo caminhávamos em meio a vegetaçao, depois próximo a um lago, para finalmente se revelar uma das visoes mais impressionantes que já tive, mas que nao foi a última no Parque. Lá na frente estava o imenso maciço de gelo (dezenas de metros de altura, centenas de largura) cuja continuaçao em nossa direcao se transformava no lago Grey. Se isso nao bastasse, o sol emitia seus raios em meio às nuvens de forma que o cen ário ficava perfeito para os amantes da contemplaçao e da fotografia. A Daiane disse que era como se houvesse um photoshop nos nossos olhos editando e aperfeiçoando o que víamos. Era apenas o primeiro dia e podíamos falar: se tivéssemos que voltar naquele momento, já tinha valido a tempo. Ainda caminhamos muitos minutos nos aproximando do glaciar, e depois voltamos. Tivemos que utilizar nossas lanternas na última meia-hora de trilha para voltar ao refúgio Pehoé. À noite comemos uma bela macarronada para repor nossas energias, feita toda em uma boca de fogareiro no quioque-cozinha de madeira que havia no local. Ao nosso lado haviam mais uns 15 campistas fazendo o mesmo. Ali conheci Kevin, um irlandes que sabia Português e que, acreditem, por baixo do casaco me mostrou que usava uma camisa do Corinthians! Paul e Jonh , os irlandeses que dividiram cabine comigo no navio também fariam o nosso trajeto, assim acampamos perto e sempre nos encontrávamos.

Segundo Dia
No sábado nossa tarefa seria um poquinho mais difícil. Tivemos que iniciar nossa caminhada até o acampamento Italiano com nossas pesadas mochilas nas costas. O fizemos em cerca de duas horas em meio a paisagens bastante inspiradoras. Víamos lagos do nosso lado direito e os cuernos (chifres) do Parque à nossa esquerda. Deixamos nossas mochilas no Acampamento Italiano e partimos com água, chocolate e câmeras para fazer as pernas do meio do W que nada mais é que ir e voltar pelo Vale Francês. Jonh tinha ido mais cedo, Eva e Paul aceleraram muito e deixaram eu e Daiane para trás. A Daiane estava psicologicamente preparada para a estenuante caminhada, mas seu corpo talvez nao, assim tinhamos que ir um pouco mais devagar, o que, por outro lado, nos permitia curtir mais as paisagens. Depois de passar em meio a florestas a nossa frente apareceu o Glaciar Francês. Faltam-me os adjetivos para desc rever essa beleza natural. Diferentemente do Glaciar Grey, o Francês é muito mais inclinado.Imagine que a sua frente está uma imponente montanha com crostas de neve e geloem seu topo querendo cair devido à inclinaçao. Ao mesmo tempo que se via gelo transformando-se em água, virando cachoeiras, se via avalanches formando nuvens brancas. Tudo isso em uma inclinaçao bem grande de modo que o gelo desce, carrega as rochas a frente e se transforma em lago. Fascinante. Voltamos ao acampamento Italiano, pegamos nossas mochilas e seguimos até o acampamento Los Cuernos. Encontramos e conversamos com várias pessoas pelo caminho. Vimos vàrios belos lagos novamente. Montamos nossas barracas e cozinhamos dentro do refúgio: arroz com legumes, linguiça defumada, ovo cozido, acompanhados por uma caixa de u m litro de vinho.

Terceiro Dia
Acoramdos e percebemos que fossos atacados por um bando de ratos. Chocolate, suco em pó, pao, roeram tudo que viram pela frente. Nao deveriamos ter deixado a comida próximo do chao. Mas ainda assim sobrou o suficiente para con tinuarmos. O dia amanheceu com uma chuva torrencial e constante. Seria o dia mais difícil já que teríamos que caminhar cerca de 7 horas como nossas pesadas michilas às costas. Com aquela chuva Eva e Daiane acabaram desistindo e seguiram direto para a Hospedaria las Torres para pegar o onibus. Eu segui sozinho e fui fazer a última perna do W. Tive que subir muito deixando o lago Nordenskjold para trás. Surgiu um pasto amarelo com dois belos cavalos pretos. Minhas energias estavam se esvaindo. Quando a subida acabou, virei a esquerda e mais uma vez tive uma visao de algo que deve se assemelhar ao paraíso, o vale do Ascêncio: entre duas montanhas um belo riacho com água correndo entre pedras. Eu estava no topo da montanha e minha visao seguia aquele riachinho entre as montanhas até o in finito. Várias cachoeiras o alimentavam a partir das montanhas. Boquiaberto, comecei uma descida até chegar ao Acampamnto Chileno. ual foi a minha felicidade quando vi que lá estavam cozinhando e descansando John e Paul. Dali a 5 minutos partimos os três juntos para em uma hora e meia finalmente chegar ao acampamento Las Torres. Nao havia quase infra-estrutura alguma em meio âquele fim de mundo, apenas uma cabaninha de madeira aonde podíamos nos proteger da neve que começava a cair. Sim, neve!! Depois de pegar sol, dia nublado e chuva parecia que viria um dia de neve à fente. Preparei meu jantar usanso a panela de fogareiro do Paul e às 8:00 da noite, com muito frio à nossa volta, todos foram entrar em seus sacos de dormir.

Quarto Dia
Foi a pior noite da minha vida. Quase morri de frio. O barulho da neve caindo era intenso. O vento cortava zunindo, balançava as árvores e derrubava muita neve na barraca. Traumatizado com o dia anterior toda hora parecia escutar os ratinhos tentando entrar. de fato ao menos m eu papel higiênico eles atacaram fora da barraca. Acho que nao dormi nem uma hora direito. Quando abri a porta da barraca e olhei pra fora quase nao acreditei. Tudo completamente branco, 20 cm de neve no chao. Infelizmente nao foi possivel, naquela manha fechar com chave de ouro a aventura, ou seja, subir por uma hora até o mirador e ver o nascer do sol por trás das Torres del Paine. Nem nos atrevemos a tentar. A vida é constituída de altos e baixos. Temos que nos conformar com isso. A natureza mostrava todo seu potencial, das mais diferentes formas. Por outro lado também temos que tentar ver beleza aonde em um primeiro momento pode nao haver. Aquela paisagem branca, para um brasileiro que só conhece inverno e 20 graus celsius, também podia trazer alegria. Com muita dificuldade desmontamos nossas barracas, tomamos um chá quente e forte e fomos embora. Paul a frente afundando os pés na neve fofa. Caminhamos cerca de duas horas pisando em neve e c om a neve caindo sobre nós. Passamos pelo acampamento chileno novamente e nao tardou para chegarmos no refugio Las Torres aonde pegariamos o onibus. Fiquei feliz em encontra lá os brasileiros Bach e Nemo que estavam presos deviso ao tempo. Tomamos uma cerveja para brindar o fechamento do circuito W. Eu estava completamente exausto pelos quatro dias intensos. Meus pés pediam clemência, pois tiveram que suportar mais peso que o usual em subidas e descidas constantes.

A aventura nao terminaria assim. Algo de terrível quase aconteceu. Nosso ônibus, voltando a Puerto natales, a quase 100 km /h, perdeu subitamente o pneu traseiro esquerdo! Era inacreditável ver aquele imenso pneu negro rolando pela estrada e adentrado o pasto. Eu tive quase certeza que o ônibus ia tombar. Por metros e metros, com o barulho do eixo queimando o asfalto, com o ônibus totalmente instável, o motorista tentava pará-lo. As quase 40 pessoas ficaram assustadíssimas, mas o habilidoso motorista conseguiu freiá-lo ao som de muitos aplausos. Descemos todos e nos transferimos para outro ônibus. Ver aquele onibus pelo lado de fora sem um enorme pneu era aterrorizante. Muitos registraram aquilo com fotos. Foi assim que tudo terminou, mostrando que às vezes a sorte também está do nosso lado, nessa gangorra da vida...

P.S. Acho que o próximo texto, sobre El Chaten, consigo postar lá pro dia 11, sexta-feira. Mudei um pouquinho o roteiro, primeiro vou a El Chaten e depois a El Calafate pra ver o glaciar Perito Moreno.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

[4] Puerto Montt a Puerto Natales de navio

ALERTA.: NAO ACABEI ESSE TEXTO AINDA... DEVE ESTAR CHEIO DE ERRO DE PORTUGUES

Fantástico, incrível, espetacular foi a viagem de navio pela Navimag de Puerto Montt a Puerto Natales. Todavia, curiosamente, a viagem nao merece tantos adjetivos pelas paisagens que apresenta, mas sim pelas curiosas pessoas que conheci e com as quais pude trocar experiências.

Paul, o irlandes que vem viajando a 6 meses pela América do Sul, John, outro irlandes que estava numa viagem mais curta e que atualmente mora nos EUA e Vincent, o suiço maluco que vive na parte em que se fala frances na Suíça foram só os primeiros, já que estavamos todos na mesma cabine do navio, que tinha quatro camas (formato de duas beliches).

Depois vieram Sally e Jonh Paul, um casal da Inglaterra. E ainda Brian e sua esposa, um casal super-simpático da Nova Zelandia com aproximadamente 60 anos.

Conheci também o gente boa canadense Carl e sua jovial namorada peruana Fiorella.

Sem falar na alema Zapi que sabia portugues, e na canadense Jane que também estava numa longuíssima viagem.

Ah, quase esqueço das duas dianamarquesas que em meio a uma festa nao pude guardar o nome e os funcionarios do navio Cristian, Fernando.

Infelizmente amanha já saio para fazer o Torres del Paine (4 dias possivelmente), assim mal estou tendo tempo de escrever esse texto pois cheguei a duas horas em Puerto Natales de navio e tenho que alugar barracas, botas, calças anti-térmicas, fogareiro, saco de dormir... comprar comida.

Enfim, como disse acho que nunca conheci tanta gente nova, de tantos lugares diferentes em tao pouco tempo.

Um grupo de 8 sempre fazíamos as refeiçoes juntos: café-da-manha, almoco e jantar. E ao longo do dia sempre estavamos esbarrando uns nos outros. Também bebiamos juntos e conversávamos a noite.

Sobre a paisagem, a melhor parte foi ver o Glaciar Pio XI a poucos metros, com seus 9 metros de altura de gelo no canal. Mas em meio a neblinas vimos muita vegetaçao com um verde desbotado, muitas aves, e leos marinhos pulando na água ocasionalmente. Passamos por muitos fiordes que são enseadas compridas e profundas, de águas salgadas, que se estendem por muitos quilômetros pelo interior do continente. Os mais famosos estão na Noruega, se bem que existam em diversas outras partes do mundo. Se formam devido a ação de imensas placas de gelo chamadas geleiras, que se movimentam em direção ao mar, como se fossem grandes rios gelados.

Socialmente a melhor parte foi a festa na quarta-feira a noite véspera da nossa chegada a Puerto natales. Uma festa que comecou com bingo e foi noite adentro com luzes de discoteca e bebida. Peço licença para deixar a modéstia de lado para dizer que eu com minha camiseta da seleçao brasileira amarela fiz o maior sucesso... talvez qualquer outro brasileiro com tal camiseta também faria. Só tinha eu de basileiro no navio, a grande maioria era de europeus.

A parte mais terrível da viagem foi no segundo dia quando entramos em mar aberto, onde ficaríamos por 12 horas. O navio pulava em meio a ondas de 4 metros, 70% das pessoas passaram muito mal. Foi muito engraçado encontrar os amigos no banheiro vomitando lado-a-lado. Eu achei que tudo que tinha dentro de mim iria sair, e que levaria uma semana para me recuperar daquilo, até porque tomei vinho e nao pude tomar um comprimido para aliviar o mal estar. Só pude faze-lo as 11.00 da noite, mas depois disso dormi bem.

Aparentemente receberei algumas dessas pessoas que conheci no Rio. Aparentemente, porque nunca se sabe. Nessas viagens parece que todos sao amigos a anos, trocam fotos, anotam os endereços, mas nem sempre isso funciona.

CRUZEIRO

Itinerario desde Puerto Montt hacia Puerto Natales.

Día 1: Lunes / Puerto Montt - Golfo de AncudRecepción de los pasajeros, para comenzar una charla informativa. Posteriormente, comienza el embarque a las 14:30 hrs., aproximadamente. El Ferry, zarpa desde Puerto Montt para iniciar la navegación por los canales interiores cruzando el Seno de Reloncaví y continúa hacia el Golfo de Ancud. Luego alcanza el Golfo del Corcovado. Cena y música en vivo por la noche.
Día 2: Martes / Zona de CanalesNavegación por el Canal Melinka, para poder avistar lobos marinos y cormoranes en la ruta. Entrada al Canal Pulluche. Cena y música en vivo por la noche.
Día 3: Miércoles / Canal MessierNavegación por la zona de los canales, como por ejemplo, el Canal Messier. Se continúa hacia Puerto Eden, donde se recala. En temporada alta, podrán avistar el Glaciar Pio XI. Navegación por el Paso del Abismo y Canal Concepción. Cena bingo y fiesta final por la noche.
Día 4: Jueves / Seno Ultima EsperanzaPara finalizar entramos en la Patagonia baja y plana navegando por el Golfo Almirante Montt para arribar al Seno de Última Esperanza y Puerto Natales. Llegada a Puerto Natales a las 10:00 AM aproximadamente, comenzando el desembarco una hora más tarde.

P.S 1 Acho que o próximo texto, sobre os 5 dias em Torres del Paine, consigo postar lá pra quarta-feira dia 9.

P.S. 2 Vejam este texto que tirei do jornal Llanquihue sobre o chef Anthony Bourdain que tem uma experiência de 28 anos na cozinha e faz sucesso com um programa em TV paga :

Lo mejor y lo peor según Bourdain

Ha viajado por los cinco continentes, pero es incapaz de elejir su restaurante favorito en cada un de ellos: "Oh Dios, no. Es una mission impossible. ¿ Que es lo mejor? Lo mejor es um puestro ultra barato de sopa de fideos o el mejor restaurant de la ciudad. Depende de tu ánino, de lo que está em tu corazón. Lo mejor es lo que necessito hoy. ¿Sabes? Probablemente es la madre (mae) o abuela (avó) de alguien cocinando para mí en su casa". Eso sí contó quales son sus tres comidas favoritas en tres lugares y las que menos le gustam. "Amo el sushi de japón, sopa de fideos en Vietnam y feijoada en Brasil, pero hay mucho más. Lo que más detesto es... Rumania nos es uno de mis lugares favoritos em la tierra. El inferno seria comer comida rápida estadounidense en Cincinatti. No es que odie la ciudad, sino que hay lugares con los que conecto y otros con los que no".

domingo, 30 de março de 2008

[x] Um texto meio fora de contexto

Moro atualmente em Copacabana. No meu dia-a-dia cruzo com inúmeros turistas. Em determinadas épocas há centenas deles, a saber: próximo ao Revellon, próximo ao carnaval, nos meses de férias escolares. Em outras períodos há menos, mas sempre há turistas em Copacabana. Encontro com eles ao sair para o trabalho, ao entrar no metrô, dentro do supermermercado, caminhando no calçadão, pegando uma praia, em um bar a noite...

Agora tento me dar conta que o sentimento deles naquele momento é exatamente esse meu agora aqui no Chile. Um deslumbramento, uma abertura, um desejo ávido pelo novo. Lá, tudo aquilo que pra mim já é parte banal do cotidiano, para eles possui uma conotação completamente diferente.

Agora sou eu aqui que cruzo com esses "eus" de Copacabana, que seguem sua vida normal: estudam, trabalham, fazem compra no supermercado ou vão a um restaurante. Vez ou outra observam abismados esses turistas (ou viajantes...), como eu, com cara de bobo que vêm aqui ver o que eles talvez já estejam cansados de ver. O que esses nativos querem mesmo é conhecer o Brasil, conhecer Copacabana, assim como o meu eu de Copacabana também às vezes cansa dos bondinhos, do Cristo, do calçadão e vem pro Chile buscar novas energias.

O que muda são as referências, os padrões, os parâmetros. O que para nós, no cotidiano, pode parecer uma chateação, ou, no mínimo, algo neutro, para um forasteiro pode ser a oitava maravilha do mundo. E vice-versa.

Uma explicação pode ser a de que, dificilmente, os sentimentos associados à primeira vez que se vivencia algo - um passeio, uma comida, a visão de uma paisagem, uma paixão-, possam ser superados nas outras vezes que se passa pela mesma experiência. O que dizer então das situações que se repetem sucessivas vezes, que se tornam quase uma rotina...

E daí então? Sei lá, é só uma reflexão. Talvez uma lembrança daquele velho poeminha que circulou na internet me economize algumas palavras:

Mude
Mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.
Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde
você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os teus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira
para passear livremente na praia,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas
e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama.
Depois, procure dormir em outras camas.
Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais,
leia outros livros,
Viva outros romances!
Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores,
novas delícias.
Tente o novo todo dia.
o novo lado,
o novo método,
o novo sabor,
o novo jeito,
o novo prazer,
o novo amor.
a nova vida.
Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.
Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado,
outra marca de sabonete,
outro creme dental.
Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.
Troque de bolsa,
de carteira,
de malas.
Troque de carro.
Compre novos óculos,
escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros,
outros teatros,
visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só.
Arrume um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light,
mais prazeroso,
mais digno,
mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre,
invente-as.
Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.
Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento,
o dinamismo,
a energia.
Só o que está morto não muda!

P.S. Quando voltar ao Brasil terei duas semanas para mudar de apartamento. A dona do meu, que acompanhou o marido que foi trabalhar na China, se separou e está voltando para o Brasil.

P.S. 2 Mas que a mudança não seja entendida como indispensável. Muitos de nós vivemos em quase permanente estado de insatisfação, acreditando que aquilo que ainda não temos é que nos fariam felizes. Pois os que já conquistaram o que um dia desejaram, que pode ser parecido com o que hoje desejamos, também parecem não se comportarem de modo diferente, também ampliaram seus "objetos de desejo", seus "sonhos de consumo", e também buscam algo que ainda não tem. Essa parece ser uma busca infrutífera e eterna. Enquanto isso a vida flui. Há filósofos que dizem que os nossos dois grandes males são o peso do passado e as miragens do futuro. A nostalgia e a esperança. O apego e a preocupação. Continuamente eles nos levam a perder o momento presente, de perder a chance de viver plenamente. "Memento mori". "Carpe diem". "Amor fati". Mude sim, mas mude despretenciosamente.

P.S. 3 Às vezes pe-esses (post-scriptum, escrito depois) podem ficar melhores do que textos.

[3] Puerto Varas e arredores

No dia seguinte à subida ao vulcão deixei Pucon às 6:40 da manhã rumo a Puerto Varas. Dentro do ônibus conheci dois brasileiros que viajavam juntos: Neemias e André, ou Nemo e Bach. Começamos a conversar sobre inúmeros assuntos e eles, embora tivessem comprado passagem para Puerto Montt, resolveram também como eu parar em Puerto Varas. O curioso é que ambos identificaram através de uma inscrição em uma pasta minha a empresa que eu trabalhava que, a maior das coincidências, era a mesma que eles trabalhavam...e ainda mais, na mesma área de negócio da empresa, apesar de ser em cidades diferentes. Nemo nasceu em Macapá, morou a maior parte da vida dele em Juiz de Fora e agora mora em São José dos Campos, Bach nasceu e mora em Curitiba, ambos formados em Engenharia Química. Se não bastasse a coincidência com relação â empresa, o Nemo também havia estudado na Unicamp e morado na moradia estudantil, na mesma rua que eu, três casas adiante!

Como eram pessoas de muito boa índole, estabelecemos uma amizade instantânea e resolvemos ficar no mesmo hostal e fazer alguns passeios juntos. Encontramos uma hospedaria com bom custo/benefício justamente na rua Mirador, a 100 metros do mirante (mirador) para o vulcão Osorno, que é muito parecido com o vulcão japonês Monte Fuji . Tão logo nos livramos de nossas mochilas já estavamos admirando o belo e simétrico vulcão com o grande lago Llanquihue a seus pés, uma visão de tirar o fôlego e de espantar qualquer cansaço.

Puerto Varas, com suas casas de madeira inspiradas em arquitetura alemã, consequência da migração de alemães para a cidade, é realmente encantadora e nos conquistou de imediato. Um belo local para relaxar e repor as energias.

Decidimos nesse mesmo dia aproveitar a tarde e visitar a cidade de Frutillar, que fica a cerca de 30 minutos de Puerto Varas. Se Puerto Varas tem influência alemã, Frutillar parece ter sido recortada da própria Alemanha e encravada no Chile. Uma imensa avenida na parte baixa da cidade, às margens do lago Llanquihue, oferece um novo ângulo do vulcão Osorno. Entre a avenida e o lago há uma vegetação muito bem cuidada, com belas árvores e flores, possibilitando o registro de grandes fotografias. É possível ficar horas andando pela pacata avenida ao lado do lago com o respeitável vulcão ao fundo, parar mesmo só para experimentar uma torta em uma das docerias alemãs. Comemos um strudel, que é a base de maçãs, e uma à base de café, ambas muito boas. Não é a toa que os alemães são conhecidos, dentre outras coisas, pelos seus doces e pães.

Retornamos para Puerto Varas e acertamos o que faríamos no dia seguinte. Passamos no supermercado e compramos um vinho, água e comida para fechar o dia com chave de ouro.

No dia seguinte acordamos cedo e tomamos o ônibus para visitar as quedas de Petrohué e o Lago de Todos os Santos. Em meio a muitos chilenos nativos, alguns com seus filhos, e com um motorista meio maluco que andava a mais de 100 km por hora, rapidamente chegamos à nossa primeira parada, cerca de 55 km depois da cidade. Através de uma bem sinalizada trilha chegamos às quedas. O que chamou a atenção neste local foram as águas claríssimas, cor de esmeralda, que corriam em meio a pedras ao lado de uma vegetação com diferentes tons de verde. Ao fundo, mais uma vez, lá estava o vulcão com seu ápice coberto de neve. Ficamos um bom tempo por aí, fizemos uma pequena trilha, e pegamos novamente um micro-ônibus para continuar até o Lago de Todos os Santos, aonde também pretendíamos almoçar.

Eu disse bem, pretendíamos, pois não encontramos um restaurantezinho sequer, e já eram 14:00 hs. Resolvemos explorar o local e depois voltar para Puerto Varas para almoçar. Mais uma vez as paisagens que encontramos foram de deixar qualquer um boquiaberto. O dia estava estupendo, o céu completamente azul com o sol brilhando forte. O Lago de Todos os Santos com suas impressionantes águas esverdeadas pediam um passeio, e foi o que fizemos. Acertamos com um barqueiro um passeio de meia hora pelo lago. A natureza naquela região realmente era envolvente. E o vulcão Osorno? Continuava lá, onipresente. Parece que aonde quer que fôssemos na região estaríamos sempre sendo vigiados por ele. Creio até que se ele fosse uma pessoa, seria muito vaidoso, na sua existência possivelmente ele já tenha sido mais fotografado que a somatória de vários finitos famosos.

Voltamos para Puerto Varas e finalmente pudemos comer às 16:30 hs. Em um cruzamento, pedi uma dica para uma cidadã puertovarense de um restaurante não turístico, de um que eles próprios utilizassem. Ela indicou um a três quadras de onde estávamos, onde pudemos saciar nossa fome tão represada. Tenho que dizer que a dica havia sido ótima, minha merluza a marinera coberta com mariscos acompanhado de papas fritas estava muy rica!

Ajudei a convencer Nemo e Bach a irem a El Chaten e ao Parque Torres del Paine, porém seguiremos caminhos distintos e provavelmente não o faremos juntos. Enquanto eu irei a partir da vizinha Puerto Montt de navio para Puerto Natales na segunda-feira, Bach e Nemo partiram para Bariloche (Argentina) de ônibus no domingo de manhã, assim para marcar a nossa despedida da cidade compramos mais vinho e queijos!

No domingo estava só e o dia estava nublado. Com o vulcão encoberto, meu olhar teve que se direcionar para outros pontos de Puerto Varas, como por exemplo barquinhos no lago com as casa de arquitetura alemã ao fundo. Como a maioria dos restaurantes estavam fechados, fui ao supermercado para comprar uma lazanha congelada com a intenção de fazê-la no microondas do albergue. No entanto, ao ver uma linda costela de porco assada, ao lado de uma salada russa (espécie de batatas com maionese e outros ingredientes) mudei de idéia. Ah claro, a refeição seria acompanhada por vinho... Aliás já é hora de falar que se no Brasil os vinhos menos ruins custam a partir de R$15,00, no Chile já há vinhos muito bons por R$5,00.

P.S. Ainda falta dizer um pouquinho sobre Pucon. Enquanto eu preparava uma macarronada na cozinha rústica da Carmem, e ela fazia crochê, pudemos conversar bastante sobre vários assuntos. Através dela pude obter um outro ponto de vista sobre o Chile, não tenho certeza se este também é o correto. Ela me falou que a educação do Chile anda piorando, que a classe média está achatada, que muitas empresas chilenas foram entregues ao capital estranjeiro, que a qualidade de vida em Santiago caiu bastante (pessoas tendo que gastar muito tempo entre a casa e o trabalho, transporte público insuficiente, pessoas stressadas), que o Chile carece de uma identidade autêntica, e ainda que admira o Brasil e sua cultura. Falou ainda sobre muitas coisas, mas tenho que confessar que a minha impressão sobre um Chile com cidadãos com padrão de vida, na média, superior a da população de outros países da América Latina continua.

P.S. 2 Li em uma reportagem no periódico Llanquihue entitulada "Los sitios imperdibles de internet" onde recomendavam: 1)Para busca de imagens: www.picsearch.com e www.faganfinder.com/img ; 2)Para busca de música: www.songza.com ; 3)Para busca de vídeos: www.blinkx.com ; 4) Para busca de blogs: http://technorati.com

P.S. 3 Carros no Chile são cerca de 25% mais baratos que no Brasil

P.S. 4 Acho que o próximo texto, sobre a viagem de 4 dias de Navio até Puerto Natales, consigo postar lá pra quinta-feira a tarde, dia 3 de abril.

quinta-feira, 27 de março de 2008

[2] A cidade de Pucon e o Vulcão Vilarrica

Bem, creio que a parte mais civilizada da viagem ficou para trás. Segue-se agora uma overdose de natureza.

Sônia, Cecília, Carmem. Todas donas de hospedarias que tem seus próprios nomes. Estava procurando a da Sônia quando fui abordado pela Cecília e ela acabou me seduzindo. Confesso que quando cheguei no local nao gostei nada, mas fiquei sem jeito de dizer. Deixei minhas coisas lá e acabei decidindo procurar outro local, foi aí que encontrei a Carmem. Sem comparação. Por quase o mesmo preço tive uma mudança drástica que melhorou até meu humor. Mas tenho que contar um incidente, ao tomar banho na hospedagem da Carmem, quase que comprometo todo o restante de minha viagem. Não, desta vez não foi dinheiro esquecido no banheiro, mas um tombo cinematográfico, de dentro da banheira que é muito lisa (todos os banheiros no Chile tem banheira e se toma a ducha de dentro delas). Enquanto minhas pernas iniciavam a decolagem, minha mão foi em direção à curtina de plástico e se apoiou em algo do outro lado, era a tampa de louça da caixa de descarga que fica junto à privada. Apesar de seus dois quilos, ela se deslocou, saiu de sua origem e caiu no chão se estraçalhando em pedaços. Não sabia se ficava feliz por não ter sido eu o quebrado da história, ou triste com a conta que certamente virá. Pior foi conter a "sem-gracesa" e contar à Carmem o ocorrido pedindo desculpas. Já pensou quão frustrante seria não subir o vulcão por causa de um tombo no banheiro?

Pucon e o vulcão Villarrica tem um caráter especial para mim nesta viagem, quando eu comecei a conceber o roteiro, logo após ter tido a idéia de viajar para o Chile, subir o vulcão seria a atração principal, algo novo para mim. No entanto, a medida que ia lendo mais sobre o Chile, descobri inúmeras outras atrações, de maneira que o que primeiro me estimulava para vir para o Chile acabou ficando aos poucos relegado em meio às outras intenções. O certo é que agora estou aqui, e tentarei registrar uma impressão da atmosfera que me rodeia.

Resolvida a questão da hospedagem (local pra ficar, local pra comer, local pra comprar passagem para outra cidade, local para contratar algum serviço turístico são as quatro ações básicas de qualquer viagem) fui logo contactar a agência Politur para contratar o serviço de subida ao vulcão. Após a atendente me explicar tudo e pesquisar como estaria o tempo no dia seguinte, acertei o passeio. Um bom tempo é fundamental para subir o vulcão, há casos de pessoas que ficam vários dias na cidade esperando o tempo ficar bom para poder subir. No preco, que não é baixo, estão incluídos a assitência de um guia e o aluguel de vários equipamentos. Ainda recebi a recomendação de levar um sanduíche para o almoço, bem como chocolates e dois litros de água. Por último ela me recomendou passar protetor solar e levar óculos escuros. Voltaríamos por volta das 18:00 hs.

Aproveitei o primeiro dia para acertar tudo isso, para comprar a passagem para Puerto Varas e para conhecer a cidadezinha. Pucon tem pouco menos de 25.000 habitantes; no mapudungun, idioma falado por índios que habitaram a região, Pucón significa "entrada da cordilheira". Há uma larga e comprida avenida central, a O' Higgins , e outras ruazinhas saindo a partir dela. Caminhando-se perpendicularmente à O' Higginins chega-se ao lago Villarrica de um lado e vê-se o vulcão do outro. Nao há muito para se conhecer na cidade, rapidamente já se tem uma idéia geral de tudo, as atrações estão mesmo ao lado da cidade. Poderia dizer que Pucon é apenas a avenida O' Higgins, mas ressalto que essa é "A" avenida. Tudo se encontra nela, inclusive bares, restaurantes e cafés aconchegantes.

No dia seguinte, quinta, cheguei ao ponto combinado para a aventura até o vulcão às 6:45. Já nos preparativos pudemos perceber a seriedade da empresa Politur. Nos forneceram uma funcional mochila com vários equipamentos que sequer sabíamos para que serviam, mas que foram ganhando utilidade a medida que prosseguíamos. Eram mais ou menos uns 10 ítens como calças, casaco e botas impermebializantes, gorro, luva, grampos para anexar às botas e andar na neve, polainas para não deixar entrar água(usadas entre as botas e a calça), uma espécie de cajado de metal, uma espécie de machadinha para frear na neve e ainda um protetor para colocar no traseiro para descer sentado na neve deslizando.

As 7:30 a van saiu de Pucon e nos levou até a base onde iniciaríamos a nossa caminhada. Eu podeira dividir a aventura em cinco fases: 1) Da base ao fim do teleférico (8:30 ás 9:10); 2) Do fim do teleférico até o início da neve (9:20 às 10:50); 3) Fase da neve (11:00 às 12:15); 4) Fase de rochas até chegar à cratera do vulcão (12:30 às13:30) 5) Volta até à base (14:20 às 17:15). Os tempos indicados foram aproximadamente o que meu grupo fez, mas não é padrão.

Ainda falando sobre a companhia, no total eram 4 guias. Um deles, infelizmente teve que voltar com o gente bonìssima brasileiro Carlos, de Promission no interior de São Paulo, aposentado do Banco do Brasil que, recuperando-se de uma gripe, não quis se arriscar além da fase 2. Outro guia seguiu com um grupo de não entendedores de espanhol mais à frente. Com os outros dois tive mais contato: o Lucas, guia super experiente e bastante atencioso com todos, que contribuiu muito para que o passeio fosse legal e o estudante de turismo, no seu último ano, Álvaro que a julgar pela prestatividade e conhecimento certamente também será um ótimo profissional. Como eu queria fazer o circuito completo, nao peguei o teleférico na fase 1 (que economiza tempo e energia), caminhei sozinho tudo, e ao fim estava me esperando o Álvaro que me acompanhou por toda a fase 2 de forma exemplar.

Sobre o grupo tive mais contato com as espanholas Amparo e Fuentes e com o espanhol Salvador. Amparo e Salvador sao casados e Fuentes é irma de Amparo. Todos excelentes pessoas que com suas conversas ajudaram a tornar o passeio menos difícil nas partes complicadas e mais divertido nas partes fáceis.

A fase que mais gostei sem dùvida foi a três. Tanto na ida quanto na volta. Na subida tivemos que vestir uma sobressola de metal na bota que funciona como grampos para fixar na neve. Com isso e alguns minutos de prática fica muito fácil caminhar no gelo. Foi nessa parte também que pude curtir mais a paisagem, devido à altura que já estavamos. A vista do lago Villarrica com Pucon e a cidade de Villarrica ao lado, bem como de outros lagos e vulcões como o Llaima que entrou em erupção em janeiro ativando o estado de alerta amarelo. Na volta nessa parte deu para imaginar um tempo de infância na neve, descemos quase todo o percurso sentados, deslizando na neve e usando a machadinha para frear, muito emocionante.

A parte mais difícil com certeza foi a fase quatro, do fim da neve à cratera do vulcão. Rochas grandes e pequenas meio soltas dificultavam a firmeza nas pernas. Além disso, nesse ponto já estavamos demasiadamente cansados e a distância, além de não curta, foi percorrida em uma parte já muito íngrime.

Chegar ao topo do vulcão é uma conquista que merece ser comemorada e, principalmente os que tiveram mais dificuldades, se sentem orgulhosos por isso. Pra mim também foi especial, mas como já disse no passado, volto a afirmar que para mim o percurso é tão importante quanto a chegada. É como a vida, com a diferença de que o final desta é bastante deconhecido por nós. Ao redor da cratera escuta-se barulhos aterrorizantes, e uma fumaça intoxicante é expelida. O fundo não se vê, não parece ser mais próximo do céu do que do... Mas todo o caminho, com as fascinantes paisagens, com os excelentes guias, com o agradável grupo, com a sensação de que por etapas estavamos atingindo nossos objetivos, foi magistral.

Há inúmeras outras coisas para se fazer em Pucon, como conhecer o Parque Huerquehue, ou uma das várias termas próximas à cidade. No entanto, minha única motivação em Pucon era conhecer o vulcão. Tenho sido bem seletivo nesta viagem, algo inédito em relação às outras, ao invés de tentar aproveitar tudo, tenho selecionado apenas algumas atrações que me agradem e aproveitado o tempo vago para fazer coisas singelas como ler, escrever, andar sem rumo definido, tomar um café, conversar, cozinhar, descansar. Creio que minhas férias serão melhor aproveitadas dessa forma.

P.S. Acho que o próximo texto, sobre Puerto Varas e arredores, consigo postar lá pra Domingo, dia 30.

P.S 2 Há espertinhos em todos os lugares. Na avenida principal de Pucon vi uma placa indicando Informaciones y Servicos Turisticos com o tradicional e internacional símbolo I à frente. Nao è que não era um posto de informações turisticas oficial, mas sim uma empresa de turismo com esse nome, querendo vender excursões aos desavisados...

P.S. 3 Comi algo em Santiago à noite, antes de viajar, que não me fez bem. Estou cheios de manchas vermelhas pelo corpo. E por falar nessa viagem Santiago-Pucon, a empresa de ônibus serve comida, assim como nos aviões. Nao só na saída, como também pouco antes da chegada foi nos oferecido suco e um lanchinho!

P.S. 4 Mais uma vez lembro que algumas fotos podem ser vistas digitando-se "pucon" ou "villarrica" em http://images.google.com.br/

P.S.5 O custo da subida ao vulcão foi PC$45000, R$100 ou R$180,00

P.S. 6 Se algum dos grandes companheiros de subida de vulcão conseguiram me ler e entenderam meu português até aqui, me mandem seus e-mails para eu enviar algumas fotos.

terça-feira, 25 de março de 2008

[1] Começando por Santiago

Buenos Aires, Belo Horizonte, La Paz. O que essas cidades têm em comum? Preste atenção, volte a elas e leia atentamente o nome de cada uma mais uma vez. Não continue lendo sem antes estabelecer pelo menos uma semelhança entre elas. Todas grandes cidades da América do Sul? Também, mas o que me fez devanear sobre elas são justamente seus nomes. Bons ares, um belo horizonte, paz. Nunca tinha pensado a respeito. Citamos tão automaticamente seus nomes que sequer refletimos sobre isso. Acredito piamente que nomes positivos como esses possam influenciar o humor de seus cidadãos.

Thiago e Paulo eram apóstolos de Jesus Cristo, símbolo do cristianismo, o segmento religioso com maior número de adeptos no ocidente. Não é a toa que a maior cidade do Brasil, São Paulo, tem esse nome, e também São Thiago, Santiago, capital de uma dos países mais católicos da América, o Chile. Talvez seja só por um acaso que meu voo que teve uma escala na capital paulista após o Rio, nao tenha sido de Sao Tiago a Sanpablo. Aproveitando o ensejo, você sabe por que a cidade que você nasceu, ou a que você mora, tem o nome que tem? Mas deixa eu voltar pro meu texto.

Antes de falar mais de Santiago, gostaria de dar uma palhinha sobre o Chile. Primeiro sobre sua curiosa distribuição no espaço. É um país comprido (4000 km de norte a sul) e estreito (apenas 180 km de largura), conforme pode ser observado no mapa ao topo. Acho que nem o Brasil, do Oiapoque ao Chuí, tem 4000 km de extensão. Essa característica faz com que o Chile apresente uma variedade impressionante de vegetação, clima, culturas. Assim, há neste país desertos (o mais seco do mundo), glaciares, fiordes, lagos e vulcões, tudo entre a imponente Cordilheira dos Andes a leste e o longo oceano Pacífico do lado aonde o sol se põe. A população do país é de 16 milhões de habitantes, inferior a da região da Grande São Paulo que já tem quase 20 milhões.

Tudo que sabia sobre o Chile antes de chegar a este país era que ele se destacava em termos de qualidade de vida de todos os demais da América Latina. Não que sua economia seja robusta, pois o somatório de suas riquezas, dos faturamentos das empresas (PIB – Produto Interno Bruto) é muitíssimo menor que o do Brasil, mas a desigualdade entre as diferentes classes não se equipara à brasileira. Além do número baixo de pobres, possibilitando que a maioria da população chilena desfrute uma boa qualidade de vida, a educação chilena é excelente. Dizem que enquanto as demais ditaduras que existiram na América deixaram pouca saudade, ao menos os militares chilenos (liderados por Pinochet nos anos de 1970 a 80) deixaram esse legado, implantaram um modelo educacional que privilegia a formação do indivíduo desde as fases infantis, ao invés de concentrarem investimentos somente nas faculdades e universidades. Mas que fique bem claro, não estou aqui elogiando ditadura alguma, apenas uma característica positiva que coincidiu com uma.

Me hospedar em Santiago, não foi fácil, só na terceira tentativa consegui um local de bom custo-benefício. Na verdade a temporara alta por aqui ainda nao acabou. Mas o local que casualmente acabei ficando, Hostel London na rua Londres, está se mostrando melhor do que a encomenda. Por essa e outras que um planejamento excessivo pode nao ser convidativo, se tivesse feito reservas em outro local, talvez não tivesse tão satisfeito. Vale destacar que o local que acabei procurando no final veio de uma lembrança de uma dica de um mochileiro no site mochileiros.com, a internet anda facilitando muito a vida dos viajantes.

Ainda no Domingo, após minha chegada, apesar de bastante cansado, ainda consegui dar uma saída e acabei me deparando por acidente com o Cerro Santa Lucía, que na verdade é um misto de pequena montanha e um agradável parque no meio da cidade, aonde se pode subir e ter uma bela vista do município. Depois continuei andando a esmo e cheguei a outros tradicionais pontos da cidade como a Plaza de Armas os paseos Ahumada e Huérfanos (ruas para pedestres cujo calçamento parece ser o de largos passeios) e a belíssima Catedral aonde pude assistir a metade de uma missa celebrada pela ressureição de Cristo, na Páscoa. No paseo Ahumada há um shopping, o Mall del Centro, nome que em português soa bem propício para um centro de consumo... Engraçado que em todas as opçoes de fast food o conjunto de comidas oferece a possibilidade de a bebida ser alcoólica, mas não é vinho não, apesar do país se destacar pela produção deste, mas um copão de cerveja. Também vi que é bem comum servirem o que chamam de picher, se não me engano, que é uma jarra com 1 litro de chopp por pouco menos de dez reais.

Gosto de ler jornais locais quando estou em outro país se entendo a língua. É uma maneira de conhecer o que anda preocupando uma determinada população e como uma cultura enxerga o mundo. Ao tomar um café na Starbucks (não gostei muito, meio fraco, na próxima pedirei um extra-forte...) as notícias que me chamaram a atenção foram 1) O relacionamento do Chile com seus países vizinhos Bolívia, Peru e Argentina. O Chile vem desativando os campos minados implantados na sua fronteira em 1970 quando tinha conflitos com esses países. 2) A presença dos vulcoes. A reportagem destacava que 88% dos vulcoes mais ativos do Chile não são vigiados (com sismógrafos e GPS), só 10 dos 80 mais ativos, incluindo o Villarrica (que vou subir) e o Llaima que entrou em erupção em Janeiro de 2008. No total sao 2000 vulcoes. Reparem que o Brasil nunca é acometido por nenhum dos dois problemas citados, relacionamento com vizinhos e problemas naturais... Também no jornal percebi pelos classificados que o que se paga por um carro 2003 no Brasil, se compra um 2006 no Chile.

Na segunda-feira conheci três bairros bastante interessantes: o Bellavista, o Las Condes e o Providência, acho que bairros, mais que o próprio centro, ajudam a entender melhor a identidade de uma cidade. O primeiro é um bairro boêmio, que parece que pode ser melhor aproveitado a noite. O segundo é parte de uma área nobre que também compreende o terceiro, possivelmente estes dois últimos bairros sao os mais ricos da cidade. Talvez equivalham a Ipanema/Leblon no Rio, Recoleta em Buenos Aires, Miraflores em Lima, Savassi em Belo Horizonte. A rua Suécia, no Providência, entre a rua Providência e o rio Mapocho, é impressionante, umas vinte incrementadas boate-bares ao longo de meros cem metros. Lá também me chamou a atenção a camiseta de um chileno com a seguinte frase: Prefiro ser um Borracho Conocido que um Alcoholico Anonimo. Borracho equivale a nosso bebado. Por falar nisso, extravagancia pra mim só mesmo no supermercado: comprei queijos e o vinho mais caro, por apenas R$16. Vamos experimentá-lo... Ah , voce ainda vai precisar disso: saca-rolhas em espanhol é saca-corcho...

P.S. Visitei também Palácio de La Moneda, o Museu de Bellas Artes, a Estação Mapocho e almocei no Mercado Central

P.S. 2 A Pergunta que não quer calar: Santiago é melhor que Buenos Aires? Para uma questão simplória uma resposta igualmente economica: se no primeiro paira um ar ingles, no segundo paira um ar italiano, principalmente nos bairros. Eu ainda ficaria com Buenos Aires, apesar de ter gostado muito de Santiago, que, com certeza, é mais interessante que La Paz, Lima e Montevideu.

P.S. 3 Me lembrei agora de um excelente filme de Julie Gravas que explica muito do porquê de o Chile ter seguido um rumo diferente na América e hoje ser um país mais justo, o filme chama-se “A Culpa é de Fidel”. Se passa na França, em Paris, e a protagonista é uma menininha que vê seus pais diminuírem drasticamente o padrão de vida, por ideologia, inclinando-se para o comunismo, passando a se engajar e a receber em sua nova e modesta casa grupos de Chilenos que tramam o destino político do Chile. O filme, que se passa na década de 70 vai muito além de uma polaridade ideológica direita/esquerda, fala sobre solidariedade, espírito de grupo, insinua que partilhar o tempo, o espaço, o conhecimento, traz alguma compensação futura. Nada poderia ser mais verdadeiro com relação ao Chile. O filme é belíssimo, recomendo e sugiro que acompanhem atentamente a evolução da menina-protagonista do egoísmo para o coletivismo. Funciona! - estou comprovando que o Chile é prova cabal disso.

P.S 4 Me perdoem por alguns acentos ausentes, sao esses teclados espanhóis...

P.S 5 Acho que o próximo texto, sobre Pucon, consigo postar lá pra sexta-feira dia 28.

sexta-feira, 21 de março de 2008

[0] Pré-viagem viajante


Apesar de já ter viajado muito, a cada nova viagem pareço um principiante com relação aos sentimentos. A busca por informações, a formatação do roteiro, a elaboração do orçamento, a expectativa, são de um prazer comparável ao da própria viagem em si.

Minha primeira viagem de férias foi em 1999 (caraca! no século passado). Foi com o dinheiro das minhas primeiras férias do primeiro trabalho conseguido após a Universidade. Na ocasião contratei um pacote para Porto Seguro: uma semana com hospedagem em um hotel médio, direito a alguns passeios no primeiro dia, e transporte de avião (a primeira vez que viajei de avião na vida – ainda bem que tinha uma cervejinha para dar uma relaxada).

Pois foi a minha primeira e última viagem nesse formato “pacote”. A sensação de ficar preso àquela companhia, de ficar preso àquele grupo, não foram legais. Em todas as demais viagens foi eu que corri atrás de tudo, o que me possibilita afirmar sem pestanejar: é muito mais vantajoso fazer isso. Flexibilidade: uma vez que não há necessidade de ficar reservando tudo e pode-se mudar o roteiro a qualquer momento a medida que se adquire novas informações, novas dicas; economia: já que é possível conhecer mais gastando-se menos, sem pagar preços inflacionados, com taxas de administração embutidos; além do fato de que sempre se conhece gente nova, especialmente em albergues da juventude, podendo haver um maior intercâmbio de culturas. Enfim, independência. Todas as minhas viagens posteriores foram assim: 1 ano nos EUA, 110 dias na Europa, Peru(Machupichu), Bolívia, Buenos Aires na Argentina, Uruguai e também as nacionais: Manaus, Salvador, Chapada Diamantina, Maceió, Foz do Iguaçú...

Há quem nomeie os dois diferentes perfis de turista e viajante. Acho que fazer turismo é chateante, bom mesmo é viajar.

Mas voltemos a falar do meu próximo destino. Já estou no meu quinto formato de roteiro para os 21 dias que pretendo passar no Chile. Por mais que se planeje sempre fica aquela sensação de que poderia ter adicionado aquela cidade, que poderia ficar mais tempo naquela outra, que poderia dar uma esticadinha até aqueloutra... Mas roteiros são tão mutáveis quanto nosso humor.

Prevejo que a viagem terá as seguintes fases:
  1. Chegada à Santiago
  2. Da pequena cidade Pucon (cerca de 700 km ao sul de Santiago): a estonteante subida de um dia até o ativo vulcão Vilarrica.
  3. Da pequena Puerto Varas: um relaxante passeio ao redor do Lago de Todos los Santos com o vulcão Osorno ao fundo
  4. Da cidade Puerto Montt: a deslumbrante viagem de navio ao longo de 4 dias em meio a glaciares descendo sentido sul até a cidade de Puerto Natales.
  5. De Puerto Natales: a exploratória caminhada de 5 dias pelo parque Torres del Paine na Patagônia chilena, um dos lugares mais bonitos da Terra (foto no cabeçalho do blog).
  6. Da cidade El Calafate: uma emocionante visita ao glaciar Perito Moreno, na Patagônia argentina
  7. Do povoado de El Chaten, também na Patagônia argentina, uma visita à colina Fitz Roy com lagos ao seu redor
  8. Partida de Buenos Aires

(No mapa, a viagem compreende a parte vermelha até embaixo na azul clara: começa na parte vermelha - Santiago, passa por toda a parte azul escura - Pucon, Puerto Varas e Puerto Montt, atravessa de navio toda a parte verde até chegar ao meio da azul clara - Puerto Natales, Torres del Paine, El Calafate, El Chaten.)

Não postarei aqui imagens. Se tiver curiosidade em ver alguns dos lugares que forem citados, digite o nome no endereço http://www.google.com/imghp?hl=pt-BR que encontrará muitas e belíssimas fotos. Acho que o próximo texto, possivelmente sobre Santiago, consigo postar lá pra terça-feira, dia 25. Vamos em frente, que atrás vem gente.