quinta-feira, 27 de março de 2008

[2] A cidade de Pucon e o Vulcão Vilarrica

Bem, creio que a parte mais civilizada da viagem ficou para trás. Segue-se agora uma overdose de natureza.

Sônia, Cecília, Carmem. Todas donas de hospedarias que tem seus próprios nomes. Estava procurando a da Sônia quando fui abordado pela Cecília e ela acabou me seduzindo. Confesso que quando cheguei no local nao gostei nada, mas fiquei sem jeito de dizer. Deixei minhas coisas lá e acabei decidindo procurar outro local, foi aí que encontrei a Carmem. Sem comparação. Por quase o mesmo preço tive uma mudança drástica que melhorou até meu humor. Mas tenho que contar um incidente, ao tomar banho na hospedagem da Carmem, quase que comprometo todo o restante de minha viagem. Não, desta vez não foi dinheiro esquecido no banheiro, mas um tombo cinematográfico, de dentro da banheira que é muito lisa (todos os banheiros no Chile tem banheira e se toma a ducha de dentro delas). Enquanto minhas pernas iniciavam a decolagem, minha mão foi em direção à curtina de plástico e se apoiou em algo do outro lado, era a tampa de louça da caixa de descarga que fica junto à privada. Apesar de seus dois quilos, ela se deslocou, saiu de sua origem e caiu no chão se estraçalhando em pedaços. Não sabia se ficava feliz por não ter sido eu o quebrado da história, ou triste com a conta que certamente virá. Pior foi conter a "sem-gracesa" e contar à Carmem o ocorrido pedindo desculpas. Já pensou quão frustrante seria não subir o vulcão por causa de um tombo no banheiro?

Pucon e o vulcão Villarrica tem um caráter especial para mim nesta viagem, quando eu comecei a conceber o roteiro, logo após ter tido a idéia de viajar para o Chile, subir o vulcão seria a atração principal, algo novo para mim. No entanto, a medida que ia lendo mais sobre o Chile, descobri inúmeras outras atrações, de maneira que o que primeiro me estimulava para vir para o Chile acabou ficando aos poucos relegado em meio às outras intenções. O certo é que agora estou aqui, e tentarei registrar uma impressão da atmosfera que me rodeia.

Resolvida a questão da hospedagem (local pra ficar, local pra comer, local pra comprar passagem para outra cidade, local para contratar algum serviço turístico são as quatro ações básicas de qualquer viagem) fui logo contactar a agência Politur para contratar o serviço de subida ao vulcão. Após a atendente me explicar tudo e pesquisar como estaria o tempo no dia seguinte, acertei o passeio. Um bom tempo é fundamental para subir o vulcão, há casos de pessoas que ficam vários dias na cidade esperando o tempo ficar bom para poder subir. No preco, que não é baixo, estão incluídos a assitência de um guia e o aluguel de vários equipamentos. Ainda recebi a recomendação de levar um sanduíche para o almoço, bem como chocolates e dois litros de água. Por último ela me recomendou passar protetor solar e levar óculos escuros. Voltaríamos por volta das 18:00 hs.

Aproveitei o primeiro dia para acertar tudo isso, para comprar a passagem para Puerto Varas e para conhecer a cidadezinha. Pucon tem pouco menos de 25.000 habitantes; no mapudungun, idioma falado por índios que habitaram a região, Pucón significa "entrada da cordilheira". Há uma larga e comprida avenida central, a O' Higgins , e outras ruazinhas saindo a partir dela. Caminhando-se perpendicularmente à O' Higginins chega-se ao lago Villarrica de um lado e vê-se o vulcão do outro. Nao há muito para se conhecer na cidade, rapidamente já se tem uma idéia geral de tudo, as atrações estão mesmo ao lado da cidade. Poderia dizer que Pucon é apenas a avenida O' Higgins, mas ressalto que essa é "A" avenida. Tudo se encontra nela, inclusive bares, restaurantes e cafés aconchegantes.

No dia seguinte, quinta, cheguei ao ponto combinado para a aventura até o vulcão às 6:45. Já nos preparativos pudemos perceber a seriedade da empresa Politur. Nos forneceram uma funcional mochila com vários equipamentos que sequer sabíamos para que serviam, mas que foram ganhando utilidade a medida que prosseguíamos. Eram mais ou menos uns 10 ítens como calças, casaco e botas impermebializantes, gorro, luva, grampos para anexar às botas e andar na neve, polainas para não deixar entrar água(usadas entre as botas e a calça), uma espécie de cajado de metal, uma espécie de machadinha para frear na neve e ainda um protetor para colocar no traseiro para descer sentado na neve deslizando.

As 7:30 a van saiu de Pucon e nos levou até a base onde iniciaríamos a nossa caminhada. Eu podeira dividir a aventura em cinco fases: 1) Da base ao fim do teleférico (8:30 ás 9:10); 2) Do fim do teleférico até o início da neve (9:20 às 10:50); 3) Fase da neve (11:00 às 12:15); 4) Fase de rochas até chegar à cratera do vulcão (12:30 às13:30) 5) Volta até à base (14:20 às 17:15). Os tempos indicados foram aproximadamente o que meu grupo fez, mas não é padrão.

Ainda falando sobre a companhia, no total eram 4 guias. Um deles, infelizmente teve que voltar com o gente bonìssima brasileiro Carlos, de Promission no interior de São Paulo, aposentado do Banco do Brasil que, recuperando-se de uma gripe, não quis se arriscar além da fase 2. Outro guia seguiu com um grupo de não entendedores de espanhol mais à frente. Com os outros dois tive mais contato: o Lucas, guia super experiente e bastante atencioso com todos, que contribuiu muito para que o passeio fosse legal e o estudante de turismo, no seu último ano, Álvaro que a julgar pela prestatividade e conhecimento certamente também será um ótimo profissional. Como eu queria fazer o circuito completo, nao peguei o teleférico na fase 1 (que economiza tempo e energia), caminhei sozinho tudo, e ao fim estava me esperando o Álvaro que me acompanhou por toda a fase 2 de forma exemplar.

Sobre o grupo tive mais contato com as espanholas Amparo e Fuentes e com o espanhol Salvador. Amparo e Salvador sao casados e Fuentes é irma de Amparo. Todos excelentes pessoas que com suas conversas ajudaram a tornar o passeio menos difícil nas partes complicadas e mais divertido nas partes fáceis.

A fase que mais gostei sem dùvida foi a três. Tanto na ida quanto na volta. Na subida tivemos que vestir uma sobressola de metal na bota que funciona como grampos para fixar na neve. Com isso e alguns minutos de prática fica muito fácil caminhar no gelo. Foi nessa parte também que pude curtir mais a paisagem, devido à altura que já estavamos. A vista do lago Villarrica com Pucon e a cidade de Villarrica ao lado, bem como de outros lagos e vulcões como o Llaima que entrou em erupção em janeiro ativando o estado de alerta amarelo. Na volta nessa parte deu para imaginar um tempo de infância na neve, descemos quase todo o percurso sentados, deslizando na neve e usando a machadinha para frear, muito emocionante.

A parte mais difícil com certeza foi a fase quatro, do fim da neve à cratera do vulcão. Rochas grandes e pequenas meio soltas dificultavam a firmeza nas pernas. Além disso, nesse ponto já estavamos demasiadamente cansados e a distância, além de não curta, foi percorrida em uma parte já muito íngrime.

Chegar ao topo do vulcão é uma conquista que merece ser comemorada e, principalmente os que tiveram mais dificuldades, se sentem orgulhosos por isso. Pra mim também foi especial, mas como já disse no passado, volto a afirmar que para mim o percurso é tão importante quanto a chegada. É como a vida, com a diferença de que o final desta é bastante deconhecido por nós. Ao redor da cratera escuta-se barulhos aterrorizantes, e uma fumaça intoxicante é expelida. O fundo não se vê, não parece ser mais próximo do céu do que do... Mas todo o caminho, com as fascinantes paisagens, com os excelentes guias, com o agradável grupo, com a sensação de que por etapas estavamos atingindo nossos objetivos, foi magistral.

Há inúmeras outras coisas para se fazer em Pucon, como conhecer o Parque Huerquehue, ou uma das várias termas próximas à cidade. No entanto, minha única motivação em Pucon era conhecer o vulcão. Tenho sido bem seletivo nesta viagem, algo inédito em relação às outras, ao invés de tentar aproveitar tudo, tenho selecionado apenas algumas atrações que me agradem e aproveitado o tempo vago para fazer coisas singelas como ler, escrever, andar sem rumo definido, tomar um café, conversar, cozinhar, descansar. Creio que minhas férias serão melhor aproveitadas dessa forma.

P.S. Acho que o próximo texto, sobre Puerto Varas e arredores, consigo postar lá pra Domingo, dia 30.

P.S 2 Há espertinhos em todos os lugares. Na avenida principal de Pucon vi uma placa indicando Informaciones y Servicos Turisticos com o tradicional e internacional símbolo I à frente. Nao è que não era um posto de informações turisticas oficial, mas sim uma empresa de turismo com esse nome, querendo vender excursões aos desavisados...

P.S. 3 Comi algo em Santiago à noite, antes de viajar, que não me fez bem. Estou cheios de manchas vermelhas pelo corpo. E por falar nessa viagem Santiago-Pucon, a empresa de ônibus serve comida, assim como nos aviões. Nao só na saída, como também pouco antes da chegada foi nos oferecido suco e um lanchinho!

P.S. 4 Mais uma vez lembro que algumas fotos podem ser vistas digitando-se "pucon" ou "villarrica" em http://images.google.com.br/

P.S.5 O custo da subida ao vulcão foi PC$45000, R$100 ou R$180,00

P.S. 6 Se algum dos grandes companheiros de subida de vulcão conseguiram me ler e entenderam meu português até aqui, me mandem seus e-mails para eu enviar algumas fotos.

Um comentário:

Unknown disse...

oi amigo,to programando esta viagem a tempos,agora acho que sai.vou com meu filho de 21 anos tambem aventureiro,vc pode me passar + ou- quanto ta passagem de onibus santiago pucon,vc esteve no atacama?pois é queria muito ta conhecendo as duas cidades eclaro gastar pouco.vc pode ta me enviando email com dicas.obg