domingo, 30 de março de 2008

[x] Um texto meio fora de contexto

Moro atualmente em Copacabana. No meu dia-a-dia cruzo com inúmeros turistas. Em determinadas épocas há centenas deles, a saber: próximo ao Revellon, próximo ao carnaval, nos meses de férias escolares. Em outras períodos há menos, mas sempre há turistas em Copacabana. Encontro com eles ao sair para o trabalho, ao entrar no metrô, dentro do supermermercado, caminhando no calçadão, pegando uma praia, em um bar a noite...

Agora tento me dar conta que o sentimento deles naquele momento é exatamente esse meu agora aqui no Chile. Um deslumbramento, uma abertura, um desejo ávido pelo novo. Lá, tudo aquilo que pra mim já é parte banal do cotidiano, para eles possui uma conotação completamente diferente.

Agora sou eu aqui que cruzo com esses "eus" de Copacabana, que seguem sua vida normal: estudam, trabalham, fazem compra no supermercado ou vão a um restaurante. Vez ou outra observam abismados esses turistas (ou viajantes...), como eu, com cara de bobo que vêm aqui ver o que eles talvez já estejam cansados de ver. O que esses nativos querem mesmo é conhecer o Brasil, conhecer Copacabana, assim como o meu eu de Copacabana também às vezes cansa dos bondinhos, do Cristo, do calçadão e vem pro Chile buscar novas energias.

O que muda são as referências, os padrões, os parâmetros. O que para nós, no cotidiano, pode parecer uma chateação, ou, no mínimo, algo neutro, para um forasteiro pode ser a oitava maravilha do mundo. E vice-versa.

Uma explicação pode ser a de que, dificilmente, os sentimentos associados à primeira vez que se vivencia algo - um passeio, uma comida, a visão de uma paisagem, uma paixão-, possam ser superados nas outras vezes que se passa pela mesma experiência. O que dizer então das situações que se repetem sucessivas vezes, que se tornam quase uma rotina...

E daí então? Sei lá, é só uma reflexão. Talvez uma lembrança daquele velho poeminha que circulou na internet me economize algumas palavras:

Mude
Mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.
Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde
você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os teus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira
para passear livremente na praia,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas
e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama.
Depois, procure dormir em outras camas.
Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais,
leia outros livros,
Viva outros romances!
Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores,
novas delícias.
Tente o novo todo dia.
o novo lado,
o novo método,
o novo sabor,
o novo jeito,
o novo prazer,
o novo amor.
a nova vida.
Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.
Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado,
outra marca de sabonete,
outro creme dental.
Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.
Troque de bolsa,
de carteira,
de malas.
Troque de carro.
Compre novos óculos,
escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros,
outros teatros,
visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só.
Arrume um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light,
mais prazeroso,
mais digno,
mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre,
invente-as.
Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.
Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento,
o dinamismo,
a energia.
Só o que está morto não muda!

P.S. Quando voltar ao Brasil terei duas semanas para mudar de apartamento. A dona do meu, que acompanhou o marido que foi trabalhar na China, se separou e está voltando para o Brasil.

P.S. 2 Mas que a mudança não seja entendida como indispensável. Muitos de nós vivemos em quase permanente estado de insatisfação, acreditando que aquilo que ainda não temos é que nos fariam felizes. Pois os que já conquistaram o que um dia desejaram, que pode ser parecido com o que hoje desejamos, também parecem não se comportarem de modo diferente, também ampliaram seus "objetos de desejo", seus "sonhos de consumo", e também buscam algo que ainda não tem. Essa parece ser uma busca infrutífera e eterna. Enquanto isso a vida flui. Há filósofos que dizem que os nossos dois grandes males são o peso do passado e as miragens do futuro. A nostalgia e a esperança. O apego e a preocupação. Continuamente eles nos levam a perder o momento presente, de perder a chance de viver plenamente. "Memento mori". "Carpe diem". "Amor fati". Mude sim, mas mude despretenciosamente.

P.S. 3 Às vezes pe-esses (post-scriptum, escrito depois) podem ficar melhores do que textos.

4 comentários:

Anônimo disse...

Padilha, já q vc vai ter de mudar de apto, pensou tb em mudar de bairro? ;-) Mudanças são boas, mas um mínimo de cotidianeidade tb é preciso, ao menos por um tempo... E faça o favor de não mudar de cidade enqto eu não conhecer o Jd Botânico, ok??
Grande abraço,
Benga

Anônimo disse...

Pena você ter que sair daquele apartamento tão aconchegante. Mas, como você mesmo disse, mudanças são sempre bem-vindas! Novos trajetos, novos rostos, novos síndicos, etc.a

Boa sorte, tomara que encontre outro tão bom ou melhor do que o atual.

Anônimo disse...

Zaida está voltando?
Abraço, Luiza de Gil.

Anônimo disse...

Oi, Padilha!
Tudo bem?
É a primeira vez que visito o seu site e estou lendo aos poucos! Parabéns!
Você poderia me passar algum email para que eu possa entrar em contato com você?
Obrigada pela atenção!
Mi Oshiro
(mizinha_oshiro@yahoo.com.br)